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Mostrando postagens de 2025

Educação. A aprovação de faz de conta

O professor hoje é pressionado de forma absurda a aprovar. Não importa se o aluno não tentou, não se esforçou, não aprendeu o mínimo necessário. A ordem é clara: passe de qualquer jeito. E se não der, finja que deu. A família cobra, a instituição empurra, a sociedade aplaude. Afinal, pra que exigir compromisso? Agora imagine esse mesmo raciocínio em outras profissões. Um engenheiro ergue um prédio sem cálculo, sem estrutura — se cair, paciência, o importante é ter tentado. Um advogado faz uma defesa pela metade — se um inocente for condenado ou um criminoso escapar, tudo bem, ele fez “o possível”. Um médico olha o paciente por cima, receita qualquer coisa e diz que investigar demais é exagero. Um dentista, diante de uma cárie, simplesmente arranca o dente inteiro. Um psicólogo escuta cinco minutos, dá um conselho de revista e encerra a sessão. Um pedreiro assenta meia dúzia de tijolos e deixa o resto no chão, porque também não pode se desgastar. Uma manicure lixa só metade da unha e di...

A verdadeira condenação é nossa

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A condenação de Bolsonaro diz muito mais sobre nós, enquanto sociedade, do que sobre ele. Em menos de uma década, temos dois presidentes presos, e ainda assim a reação coletiva se resume a comemoração do “lado A” ou do “lado B”. Não se trata de política, nem de um país melhor. Trata-se de idolatria. De uma ilusão de que um brasileiro precisa odiar o outro para validar sua própria visão de mundo. Um lado não presta porque endeusa o outro, e vice-versa. Nossos representantes, que deveriam unir, alimentam o ódio com discursos vazios de paz e de conciliação. E nós, cegos pela polarização, seguimos divididos como irmãos em guerra, incapazes de enxergar que o verdadeiro problema não está apenas neles, mas em nós mesmos.

Quase uma oração

Tenho trabalhado muito minha mente para desconstruir aquilo que enraizaram no meu subconsciente: a ideia de que, como professor, devo mudar o mundo ou reparar o descaso que parte desta geração tem pela educação. Não sou salvador da pátria, nem herói. Sou um profissional formado e capacitado para ensinar. Na faculdade, não me ensinaram a sacrificar minha saúde física e mental para convencer os alunos de que precisam ser estudantes. Meu compromisso é dar o melhor de mim àqueles que desejam aprender. Esses merecem meu esforço. Quanto aos demais, que colham o que plantaram. E quando tentarem me culpar pelo fracasso, minha meta é não me deixar abalar e ter a clareza de que estive em sala de aula por todos, mas que nem todos estiveram lá para aprender. Quando os pais vierem reclamar, culpar-me e colocar os filhos em altares invisíveis, que eu tenha a sabedoria de dizer o que precisa ser dito: durante um ano inteiro não se preocuparam com a vida escolar deles, e agora precisam colher, junto c...

O valor que não de mostra

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Sinto falta dos gestos de bondade genuínos. Daqueles que não precisavam se transformar em um post, fadado a ser esquecido. Daqueles que, ao serem lembrados, ainda hoje abrem um sorriso no rosto. Sinto falta da generosidade de outros tempos, feita pela honra de ajudar, e não pela busca de aprovação social. Sim, eu vivi esse momento. Um tempo que não está registrado em fotos, mas talvez em uma carta escrita à mão — sim, à mão! — em folhas já amareladas que, ao reler, me fazem viajar no tempo. Onde foi parar a bondade? Onde estão as pessoas de bom coração? Teriam entrado em extinção? Não, meu caro, com certeza não! Elas apenas continuam sendo quem sempre foram: discretas, sem jamais querer transformar suas belas e fiéis ações no centro das atenções.

Direitos sem deveres, futuros sem rumo

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Às vezes, sinto um peso enorme no coração ao olhar para essa geração que está se formando diante de nós. Uma geração que coloca o prazer antes das obrigações, que acredita que tudo deve ser fácil, rápido e imediato. Direitos são exigidos com veemência, mas os deveres, esses, parecem invisíveis. É como se o equilíbrio tivesse sido esquecido. O futuro? Muitos não o enxergam. Não é planejado, não é sonhado com esforço, não é construído com disciplina. É tratado como se fosse cair do céu, como se bastasse existir para conquistar. E quando algo exige dedicação ou paciência, a frustração vem como um muro intransponível. Afinal, ouvir um “não” ou enfrentar uma dificuldade tornou-se quase insuportável. Como professor, me dói ver isso. Porque sei que a vida não perdoa a falta de preparo. Ela cobra, e cobra caro. Não existe caminho fácil, não existe vitória sem esforço, não existe direito sem dever. Mas parece que muitos se esquecem disso. O que me entristece ainda mais é perceber qu...

Romantismo da docência

     Ser professor no Brasil, muitas vezes, é aprender a viver entre o amor pela profissão e a dor de ser invisível. É entrar em sala de aula todos os dias carregando uma responsabilidade imensa, mas sem o devido apoio.      A gente aprende a acreditar que cansaço extremo, ansiedade e noites mal dormidas são “parte do trabalho”. E, pior ainda, aprende a se calar, porque reclamar é visto como fraqueza ou falta de vocação.      O problema é que esse silêncio tem um preço alto. Segundo pesquisas recentes, o Brasil está entre os países com maior índice de professores afastados por problemas emocionais e psicológicos.      O burnout docente deixou de ser exceção para se tornar rotina. Ansiedade, depressão e estresse não são apenas palavras soltas em relatórios médicos; são rostos exaustos, vozes embargadas e vidas que vão se apagando pouco a pouco.      E, mesmo assim, a sociedade naturaliza. O professor que trabalha ...

Momentos

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Em algum momento deixei de ser menino e me tornei homem — mas esqueceram de me avisar o quanto amadurecer pode ser difícil e, ao mesmo tempo, lindo. Em algum momento deixei de ser apenas filho e me tornei pai. Foi então que compreendi quando dizem que o coração pode bater fora do peito. Em algum momento amei e, tempos depois, achei que não seria capaz de me reerguer. Mas o tempo passou... e amei muitas outras vezes. Pois em algum momento aceitei que, mesmo com o enorme risco da dor dilacerante, amar ainda é uma das melhores coisas da vida. Em tantos momentos já sorri e já chorei — ora por dor, ora por alegria. Já fui poeta, pensador, dono da verdade... e também o homem mais ignorante do mundo. E, muitas vezes, tudo isso ao mesmo tempo. Em algum momento fiz amigos para a vida toda, mas não fui avisado de que alguns partiriam, tornando-se apenas o que já eram antes: mais uma pessoa no mundo. Em algum momento fui mudado — até mesmo ao escrever este texto. Porque, no fim, o que...

Contradição educacional

Para consertar a educação, é preciso consertar as pessoas. Mas, para consertar as pessoas, é preciso consertar a educação. Percebe a armadilha? Criou-se um ciclo vicioso de difícil ruptura, um problema sistemático de proporções quase incontroláveis. A contradição dessa ideia é perturbadora, sobretudo quando notamos que o número de pessoas realmente dispostas a corrigir a rota é muito menor do que o daqueles que preferem assistir, passivamente, a este barco à deriva. Basta se mostrar indignado para ouvir, quase de imediato, vozes que tentam silenciar sua revolta: “as coisas são assim mesmo”, “não vale a pena se estressar”, “quanto antes aceitar, melhor”. E, como se fosse um metal raríssimo no universo, dificilmente se encontra alguém que compartilhe a mesma indignação, o mesmo fogo no coração para enfrentar essa realidade. E talvez seja justamente essa a parte mais dolorosa: perceber que a maioria se acomoda, se cala e se molda ao fracasso, enquanto poucos ousam remar contra a corrente....

Nostalgia ou despertar?

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Em um destes momentos de vagância pelos vídeos aleatórios na internet, vi um vídeo de um casal se beijando como se o mundo tivesse parado. Ela repousava no colo dele, os dois entrelaçados, perdidos naquele instante que parecia não ter fim. E de repente me vi ali, em outra época, lembrando de quando eu também me entregava assim. Lembrei do portão de casa, das horas que se estendiam em beijos longos, do coração acelerado e daquela sensação de que nada mais existia além daquele momento. Foi inevitável pensar: por que não faço mais isso? Por que deixei escapar algo tão simples e, ao mesmo tempo, tão profundo? Talvez o tempo tenha me mudado. As responsabilidades chegaram, os dias ficaram mais cheios, e aquele jeito despreocupado de amar foi se escondendo atrás da rotina. Mas a lembrança não veio apenas como saudade. Veio como um chamado. Como quem sussurra que ainda é possível. Que o amor não perde a força com os anos, apenas muda de forma. E que, se eu quiser, ainda posso vol...

Mais forte do que dizem...

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Deus não me explica. E tá tudo bem.

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É curioso como as pessoas se interessam tanto pela minha religião — ou pela ausência dela. Talvez isso se intensifique por causa das minhas formações. Ouço com frequência frases como: "Todo professor de física é ateu", ou "Mas você não tem religião?". Me lembra muito quem tenta descrever a gente com base em signos: um esforço de encaixar o incompreensível em rótulos confortáveis. Então, vamos lá: A concepção de Deus proposta pelas religiões tradicionais já não me faz sentido. Não porque não acredito em algo maior, mas porque vejo incoerência em tentar explicar o que, por essência, deveria ser inexplicável. Em limitar o que dizem ser ilimitado. Acredito em energia. Acredito em pessoas boas e ruins. Acredito em energias positivas e negativas. Acredito que, se alguém precisa temer um ser superior para agir corretamente, então essa pessoa nunca foi, de fato, boa. A vida está cheia de ateus que criam instituições filantrópicas e de cristãos que espalham ódio,...

Do início NÃO fim

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No instante em que a carne roça o chão, ele, frágil, entende o peso do que é ser. Não há clarim que anuncie queda, apenas o corpo, sem pressa, a ceder. Em sua boca, o pó murmura segredos, na palma, a pedra se deita em prece muda. É ali — no ventre do abismo, no leito sem cor — que a vista se ergue, vencida, quase crua. Quem o visse diria: jaz vencido, feito folha que se curva à chuva fria. Mas dentro dele, turva, brilha a sina: quem toca o fundo, toca a luz que principia. Pois não há queda sem busca de abrigo, nem peito que, rasgado, não se lembre do prodígio discreto de um braço amigo, de um ombro que amanse o medo que se estende. Ele, sem voz, procura no vazio a mão, a carne, o gesto que redime — feito milagre, neste mundo tardio, ter quem ampare, quem sopre o que se imprime. É do chão que vislumbra o improvável: um vulto, um pulso, um sopro de cuidado. Enquanto tantos passam, inumeráveis, um fica. E faz do fardo o seu legado. E assim se ergue, por dentro, devagar, não to...

Alçapão de Vozes Velhas

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Há quem insista em guardar rostos no bolso do casaco, mesmo quando a estação mudou faz tempo. Nomes que dormem em silêncio, mas respiram — cúmplices de um passado que se finge esquecido, pendurados na memória como retratos tortos na parede. Em noites caladas, ouve-se o sussurro do que não morreu direito. Conversas mofadas, números que não deviam mais existir, ficam ali, latentes como brasas cobertas de pó. Um estoque de beijos que nunca se gastam, uma despensa de promessas vencidas. Há quem precise desse museu ambulante, feito talismã de carência, álibi para o tédio, porto de fuga para dias em que a coragem some. Portas se mantêm entreabertas, só pra alimentar o sopro de vaidade — um aceno de que a fila nunca acaba, de que tudo pode recomeçar se a rotina pesar. Enquanto isso, alguém varre os cantos, espera a casa ficar limpa, aposta em silêncio que a porta feche. Mas quem cultiva gavetas abarrotadas não tem espaço pra futuro. Quem amontoa vozes velhas não sabe escutar prese...

Quando saíres

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Quando saíres, sê diligente em cerrar bem a porta, Não para impedires teu regresso — que já não será possível — Mas para que o vento não traga de volta os ecos do outrora, Nem as sombras te tentem a calcar, de novo, o mesmo limiar. Leva contigo tudo quanto te pertence: Os toques que foram teus, os aromas da convivência, As memórias, mesmo as tênues, e os risos entrecortados. Tudo quanto puseste nesta casa do afeto, guarda em ti, Ou lança-o ao esquecimento, selado numa caixa De papelão ordinário, no porão do passado, Para que ali feneça entre o mofo e o tempo, Sem perturbar a morada que há de abrigar outrem. Não voltes o rosto. Não vaciles nos passos. Que tua decisão, ainda que árdua, seja firme como o aço forjado. Pois o arrependimento — esse velho ladrão da paz — Segue silencioso, como sombra ao crepúsculo, A espreitar a menor fresta por onde possa entrar E contigo fundir-se, tornando-se parte de ti. Vai! Mesmo que o caminho à frente seja bruma e incerteza. Que teus passos...

ONU: A Organização que se tornou uma ONG de Luxo?

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Durante a pandemia da COVID-19, milhões de pessoas em países pobres receberam suas primeiras vacinas graças à iniciativa COVAX, coordenada pela ONU. Em regiões devastadas por guerras — como o Sudão do Sul, o Iêmen ou a Síria — a comida que chega é muitas vezes distribuída pelo Programa Mundial de Alimentos. Crianças refugiadas, que perderam tudo, encontram nas escolas improvisadas da UNICEF o único ponto de esperança. A ONU salva vidas. Isso é inegável. Mas… é só isso? Se formos honestos, a Organização das Nações Unidas — essa sigla tão carregada de simbolismo — vem se parecendo cada vez mais com uma ONG global com status diplomático. Cheia de boas intenções, com projetos humanitários reais e fundamentais, mas sem poder real para mudar as estruturas de um mundo brutalmente desigual e violento. A ONU foi criada em 1945, após o horror da Segunda Guerra Mundial, com a promessa de garantir a paz, a segurança e a dignidade humana. Mas, quase 80 anos depois, a promessa não v...

Entre o amor de ensinar e o peso de ser professor.

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Tenho escrito bastante sobre a frustração da minha atual profissão, né? Mas festa vez, prometo que será a mesma coisa! Mas tenho um ótimo motivo! Outro dia ouvi de um amigo professor, que por sinal é muito mais sábio que a maioria por aí, além de ser um grande amigo, que ele ama dar aulas, mas odeia ser professor, e isso vem inundando minha mente com reflexões sobre o que essa frase significa. De início, parece contraditório. Mas, quanto mais penso, mais entendo a profundidade e a dor que está afirmação carrega. Dar aula é o momento em que a gente respira. É quando o conhecimento encontra o olhar curioso, quando a explicação conecta ideias, quando o silêncio da escuta atenta vale mais do que qualquer aplauso. É a parte bonita, viva, pulsante da profissão. Mas ser professor… ser professor é enfrentar batalhas invisíveis todos os dias. É ser cobrado por resultados, mas não ter apoio. É ter paixão, mas ser desacreditado. É ouvir que está em uma “profissão nobre”, mas sentir-se...

Recomeço

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Enquanto avançava, me perdia. Encontrava versões de mim que eram suas — não minhas. Melhorava, me aprimorava, pensava... Mas não por mim. Não por nós, como eu dizia. Fazia tudo por você. Assim como você chegou e eu ativei o modo casal , você se foi — e resetar quem eu me tornei foi muito mais difícil do que imaginei. Não! Não voltarei à esquina onde nos encontramos, buscando me reencontrar naquela versão. Ela não existe mais. Fui atualizada. Agora sigo em frente, em busca de ser o amor da minha vida. Não dos outros. Não para outros amores. Mas para me olhar no espelho e saber: eu sou incrível. Inigualável. Vou dobrar esquinas, me perder e me reinventar quantas vezes for preciso. Me juntar, me descartar, me reciclar — me tornar sempre algo novo. Por muito tempo, o medo de não sentir de novo me consumiu. Fiquei estéril, enquanto o tempo girava sua roda. Mas hoje… essa dança eu sei dançar. E esse medo já não baila mais comigo. A passos larg...

Onde mora o impossível

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Amigos são, por essência, mistério e milagre. Em meio às tempestades da existência, tornam-se brisa suave de maresia; e nos abalos sísmicos da alma, firmam-se como fortalezas, bunkers de ternura e abrigo. Havia nele — aquele que agora escreve em silêncio emocionado — a crença de que partilhar o fardo da vida era uma utopia bonita demais para ser vivida. Admirava de longe a cena quase mítica de um ser humano carregando o outro, quando este já não tinha forças para caminhar. Parecia-lhe poesia distante, quadro de um mundo inalcançável. Mas o que é imaginário senão aquilo que ainda não se fez real? Pois é exatamente isso que acontece: aqueles que chama de amigos ultrapassam os limites do que julgava possível. Eles acolhem suas dores mais agudas, suas crises e os medos mais íntimos. Amparam, com mãos firmes e corações atentos, até mesmo seus espinhos. E, talvez mais importante que tudo, respeitam seu silêncio e os contornos únicos do seu “que”. Gratidão? Ele se pergunta se essa...

O peso invisível dos fortes

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Existem pessoas raras neste mundo. Pessoas que não apenas escutam, mas acolhem. Que, diante da dor alheia, não recuam. Ao contrário — se aproximam, abraçam, silenciam com presença, e, sem que se perceba, puxam para si uma parte da carga que não era delas. São essas almas que carregam o poder de absorver as tempestades dos outros e, ainda assim, caminhar em meio à própria. Que transformam lágrimas que não são suas em sorrisos que oferecem de volta. Que guardam no peito o cansaço de muitas batalhas que nem travaram, mas que enfrentaram por empatia, por amor, por instinto. Enquanto o mundo as vê como fortes, elas sentem a exaustão silenciosa de carregar dores que não aparecem. São fortalezas que não se permitem desmoronar, porque sabem que, muitas vezes, são o último abrigo de alguém que já está quase desistindo. Essa resiliência é rara. É linda. É quase sagrada. Mas, mesmo os fortes precisam de colo. Mesmo os que seguram o mundo precisam de alguém que, de vez em quando, pergu...

Quando a escola cai, caímos todos

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Por trás do portão da escola, ruídos silenciosos ecoam. Não são os risos das crianças no recreio, nem o barulho da campainha anunciando o intervalo. O que ecoa, cada vez mais alto, é o som de um sistema que desaba. Um sistema educacional que não falhou por acidente, mas foi sistematicamente empurrado ao colapso. A falência da educação brasileira não começa na lousa — começa em casa, na pressa dos pais, na ausência dos afetos trocados por horas extras de trabalho em busca de luxos. Começa nas urnas, no voto vendido por promessa vazia, na escolha de políticos que confundem poder com privilégio. Começa no discurso de igualdade que virou ruído, que gera revolta mas não promove mudança. Vivemos em um país que, não por acaso, precisa de mão de obra barata, obediente e facilmente manipulável. Que quer pais ocupados demais para ensinar, para amar. Que quer gestores preocupados mais com índices do que com histórias, mais com bônus e cargos do que com bibliotecas e laboratórios. Enqu...

A Superexposição e o Tédio Digital: Quando a Vida no Story Vira Zapping

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Vivemos uma era em que a necessidade de compartilhar tornou-se quase uma obrigação social. Do café da manhã ao treino na academia, passando por desabafos, conquistas e até momentos de tédio, tudo ganha espaço nos stories das redes sociais. No entanto, o que começou como uma maneira interessante de conexão e expressão pessoal parece ter se transformado numa repetição exaustiva do ordinário — uma avalanche de registros que, ironicamente, perdeu o sentido justamente por sua abundância. O fenômeno lembra os velhos tempos do controle remoto na mão, quando trocávamos de canal compulsivamente, sem encontrar algo que realmente captasse nossa atenção. Hoje, os stories se tornaram os “canais” da vez — e a nossa paciência, o botão que passa tudo adiante em um toque. A banalização do compartilhamento transformou o conteúdo em ruído. A intimidade virou espetáculo, mas o público, saturado, já não assiste — apenas desliza. Essa superexposição revela uma urgência de validação que, muitas v...

Ciclos

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Pessoas vêm. Pessoas vão. E não é tragédia, é só vida acontecendo. Chegadas trazem brilho nos olhos, promessas silenciosas, dias bons que a gente acha que vão durar pra sempre. Mas não duram. As prioridades mudam, as rotas se desencontram, e às vezes, o silêncio fala mais alto do que qualquer briga. Tem gente que já foi tudo, e hoje é só nome conhecido num feed distante. Tem quem um dia jurou estar sempre por perto, mas hoje mal lembraria seu aniversário. E tá tudo bem. Nem todo vínculo é eterno. Nem todo afeto se sustenta no tempo. E não é amargura — é aceitação. A gente não dirige olhando o retrovisor. Segue. Aprende. Guarda o que foi bonito. E deixa ir o que já não faz sentido ficar.

Educação: um barco furado?

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Faz tempo que a escola não é para todos. Talvez nunca tenha sido. Ainda assim, gosto de acreditar que houve uma época em que os jovens buscavam conhecimento, movidos pela curiosidade e sede de novidade. Mesmo nesse tempo hipotético, já existiam os que viam nos estudos um caminho para melhorar de vida — e os que só queriam curtir a jornada. E hoje? Diante do desinteresse dos estudantes, da apatia dos pais e da exigência de uma mão de obra cada vez menos qualificada para alimentar a cultura do consumo e sustentar uma política falida, governos inventam mil e uma formas de distribuir diplomas a analfabetos funcionais, políticos e sociais. Governos? Para que investir na valorização dos professores? Melhor criar projetos fantasmas, sugar a saúde física e mental desses profissionais e empurrá-los ladeira abaixo rumo à precarização do ensino público. Gestores? Quanto mais "aprovações", mais dinheiro na conta, mais pais felizes, governo satisfeito e o cabide de empregos ga...

Carta aberta sobre o naufrágio da educação

À todos Faz tempo que a escola deixou de ser um espaço para todos. Talvez, sendo sinceros, nunca tenha sido. Ainda assim, quero crer que houve uma época em que os jovens buscavam o conhecimento com curiosidade, sede de novidade, vontade genuína de transformar a própria realidade. Mesmo então, já havia os que enxergavam nos estudos um caminho de ascensão — e os que apenas queriam passar o tempo. Hoje, porém, o que se vê é desinteresse por parte dos estudantes, apatia por parte das famílias e um sistema que exige cada vez menos esforço para formar cidadãos cada vez menos preparados. Enquanto isso, governos criam mecanismos para distribuir diplomas como se fossem brindes — entregues a analfabetos funcionais, políticos e sociais. Por que investir na valorização dos professores? É mais conveniente criar projetos de fachada, esgotar física e mentalmente os educadores e empurrá-los para a precarização do ensino público. A lógica é perversa: quanto mais aprovações, mais dinheiro, mais pais “sa...

Os poucos e os nossos

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Faço parte de um grupo raro. Raro como encontrar silêncio em meio ao barulho do mundo ou lucidez em meio à pressa. Um grupo que não gosta de gente — não no sentido genérico, mas naquele específico: gente que invade, que julga, que se acha evoluída demais pra enxergar o básico. A gente não curte contato forçado, conversa rasa ou aquela simpatia que disfarça preconceito. A gente não se curva ao "tem que ser assim". Já surtamos com essa sociedade que se diz moderna, mas ainda tropeça nas mesmas velhas ignorâncias. E, apesar do caos, a gente se apoia. Porque entre os nossos, ainda existe abrigo. Sou o mais limitado desse grupo. Admito. Não disfarço quando algo me incomoda — meu rosto entrega tudo. Não suporto ignorância travestida de opinião e, às vezes, confesso, sou um idiota até com quem amo. Mas é que o filtro vai embora quando a gente se cansa de tanta performance social. Entre nós, os diálogos são intensos. A gente debate o mundo, esbarra nas polêmicas, mergulha...

Confissão

Não sou escritor. Não tenho essa ousadia. Não por falsa modéstia — mas por respeito. Tenho nas palavras uma amiga muda, silenciosa, que diz mais que vozes apressadas, que exibem saberes que nunca tiveram, vivências que nunca viveram. A escrita sempre me acolheu: me deixou desabafar, criar, sonhar, sem medo, sem pressa, sem censura. Ela me escancara meus exageros, defeitos, desvios, mas sem cobrar, só sugerindo: "Olha bem para si." E, ainda assim, me mostra que sou bom — melhor do que eu achava. Que meu coração abriga, oferece, transborda. Mas não — não sou escritor. Não falo isso por modéstia, como disse Caetano, falo porque é verdade. Tenho essa necessidade: escrever. Derramar sentimentos, percepções, fantasias, em algum lugar eterno — antes o papel, hoje o celular — onde posso me ler, me reviver, me reaprender, me reinventar.