Os poucos e os nossos




Faço parte de um grupo raro. Raro como encontrar silêncio em meio ao barulho do mundo ou lucidez em meio à pressa. Um grupo que não gosta de gente — não no sentido genérico, mas naquele específico: gente que invade, que julga, que se acha evoluída demais pra enxergar o básico.

A gente não curte contato forçado, conversa rasa ou aquela simpatia que disfarça preconceito. A gente não se curva ao "tem que ser assim". Já surtamos com essa sociedade que se diz moderna, mas ainda tropeça nas mesmas velhas ignorâncias. E, apesar do caos, a gente se apoia. Porque entre os nossos, ainda existe abrigo.

Sou o mais limitado desse grupo. Admito. Não disfarço quando algo me incomoda — meu rosto entrega tudo. Não suporto ignorância travestida de opinião e, às vezes, confesso, sou um idiota até com quem amo. Mas é que o filtro vai embora quando a gente se cansa de tanta performance social.

Entre nós, os diálogos são intensos. A gente debate o mundo, esbarra nas polêmicas, mergulha fundo no que muitos evitam. E, de repente, num scroll qualquer, a gente se entende num reel idiota. Sem uma palavra. Porque o silêncio entre os nossos fala mais que discursos inteiros.

Olhares bastam. Presença basta. O raro está aí — na conexão sem esforço, na sintonia que não precisa ser explicada. As pessoas não fazem ideia do valor disso. Mas a gente faz. A gente sente.

Somos poucos. Sinceros. Fiéis a quem somos e ao que acreditamos. Abertos ao novo, sim — desde que não exija que a gente se traia pra caber. E por mais que o mundo tente rotular, rotacionar e moldar, a gente permanece inteiro. Sem se vender. Sem trocar a amizade por conveniência.

E eu tenho um orgulho da porra desses poucos. Porque são eles que ainda fazem sentido nesse mundo tão cheio de gente, mas tão carente de humanidade.


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