A Superexposição e o Tédio Digital: Quando a Vida no Story Vira Zapping
Vivemos uma era em que a necessidade de compartilhar tornou-se quase uma obrigação social. Do café da manhã ao treino na academia, passando por desabafos, conquistas e até momentos de tédio, tudo ganha espaço nos stories das redes sociais. No entanto, o que começou como uma maneira interessante de conexão e expressão pessoal parece ter se transformado numa repetição exaustiva do ordinário — uma avalanche de registros que, ironicamente, perdeu o sentido justamente por sua abundância.
O fenômeno lembra os velhos tempos do controle remoto na mão, quando trocávamos de canal compulsivamente, sem encontrar algo que realmente captasse nossa atenção. Hoje, os stories se tornaram os “canais” da vez — e a nossa paciência, o botão que passa tudo adiante em um toque. A banalização do compartilhamento transformou o conteúdo em ruído. A intimidade virou espetáculo, mas o público, saturado, já não assiste — apenas desliza.
Essa superexposição revela uma urgência de validação que, muitas vezes, vem disfarçada de autenticidade. Mas quem observa de fora enxerga uma performance, quase um teatro do cotidiano. A repetição dos mesmos formatos, trilhas sonoras e poses sugere que, em vez de mostrarmos quem somos, temos cada vez mais seguido um roteiro inconsciente de pertencimento digital.
A crítica, portanto, não é contra o uso das redes — mas contra o uso sem propósito. A vida, quando transformada em vitrine constante, perde sua espontaneidade e seu valor de verdade. E para quem vê, sobra o cansaço: uma vontade de desconectar, ou ao menos de silenciar o que não diz nada.
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