Carta aberta sobre o naufrágio da educação

À todos

Faz tempo que a escola deixou de ser um espaço para todos. Talvez, sendo sinceros, nunca tenha sido. Ainda assim, quero crer que houve uma época em que os jovens buscavam o conhecimento com curiosidade, sede de novidade, vontade genuína de transformar a própria realidade. Mesmo então, já havia os que enxergavam nos estudos um caminho de ascensão — e os que apenas queriam passar o tempo.

Hoje, porém, o que se vê é desinteresse por parte dos estudantes, apatia por parte das famílias e um sistema que exige cada vez menos esforço para formar cidadãos cada vez menos preparados. Enquanto isso, governos criam mecanismos para distribuir diplomas como se fossem brindes — entregues a analfabetos funcionais, políticos e sociais.

Por que investir na valorização dos professores? É mais conveniente criar projetos de fachada, esgotar física e mentalmente os educadores e empurrá-los para a precarização do ensino público.

A lógica é perversa: quanto mais aprovações, mais dinheiro, mais pais “satisfeitos”, mais gestores garantidos nos seus cargos. A qualidade? Que espere. O aluno? Que se vire. O professor? Que aguente.

E quanto aos professores? Muitos embarcaram nessa jornada conscientes das dificuldades. O que não sabiam era o tamanho do rombo nesse barco. Alguns se adaptaram e seguem apenas pelo salário. Outros, ainda acreditam que a educação pode mudar o mundo. Mas a pergunta que não quer calar é: quem, de fato, quer que o mundo mude?

Aos pais, deixo um apelo: vocês não são eternos. São vocês os primeiros educadores de seus filhos. Estão realmente presentes na vida deles? Ou terceirizaram tudo à escola?

Toda regra tem sua exceção, e a educação brasileira ainda conta com profissionais e famílias comprometidos. Mas quando a exceção vira raridade e o cotidiano é feito de desilusão, perseguição a professores, silêncio institucional e estatísticas manipuladas, o sonho de uma educação de qualidade e equitativa se torna apenas isso: um sonho. Um devaneio filosófico de sonhadores derrotados.

Que essa carta incomode. Que provoque. Porque só o incômodo pode gerar mudança.


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