Confissão


Não sou escritor.
Não tenho essa ousadia.
Não por falsa modéstia —
mas por respeito.

Tenho nas palavras
uma amiga muda,
silenciosa,
que diz mais
que vozes apressadas,
que exibem saberes
que nunca tiveram,
vivências
que nunca viveram.

A escrita sempre me acolheu:
me deixou desabafar,
criar, sonhar,
sem medo,
sem pressa,
sem censura.

Ela me escancara meus exageros,
defeitos,
desvios,
mas sem cobrar,
só sugerindo:
"Olha bem para si."

E, ainda assim,
me mostra que sou bom —
melhor do que eu achava.
Que meu coração abriga,
oferece,
transborda.

Mas não —
não sou escritor.
Não falo isso por modéstia,
como disse Caetano,
falo porque é verdade.

Tenho essa necessidade:
escrever.
Derramar sentimentos,
percepções,
fantasias,
em algum lugar eterno —
antes o papel,
hoje o celular —
onde posso me ler,
me reviver,
me reaprender,
me reinventar.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sem pudor

Minha complexidade.

Além do nevoeiro