Quando a escola cai, caímos todos


Por trás do portão da escola, ruídos silenciosos ecoam. Não são os risos das crianças no recreio, nem o barulho da campainha anunciando o intervalo. O que ecoa, cada vez mais alto, é o som de um sistema que desaba. Um sistema educacional que não falhou por acidente, mas foi sistematicamente empurrado ao colapso.

A falência da educação brasileira não começa na lousa — começa em casa, na pressa dos pais, na ausência dos afetos trocados por horas extras de trabalho em busca de luxos. Começa nas urnas, no voto vendido por promessa vazia, na escolha de políticos que confundem poder com privilégio. Começa no discurso de igualdade que virou ruído, que gera revolta mas não promove mudança.

Vivemos em um país que, não por acaso, precisa de mão de obra barata, obediente e facilmente manipulável. Que quer pais ocupados demais para ensinar, para amar. Que quer gestores preocupados mais com índices do que com histórias, mais com bônus e cargos do que com bibliotecas e laboratórios.

Enquanto isso, nas salas de aula, o palco é outro: estudantes com todos os direitos e nenhuma responsabilidade, moldados por uma lógica que diz que o mundo lhes deve algo — e rápido. Recusam o conselho de quem já caiu, tropeçou, errou tentando acertar. Afinal, se erraram tanto, que moral têm?

Os políticos, por sua vez, garantem seus privilégios com a precisão de quem escreve suas próprias regras: auxílio-moradia para quem mora em mansão, auxílio-paletó para quem troca de terno, auxílio-tudo — menos auxílio ao povo. E de tempos em tempos, defendem com veemência os direitos da CLT, enquanto flertam com a retirada de todos eles.

E os professores? Ah, os professores… Aqueles que, por vocação ou sobrevivência, entram em salas sem estrutura, enfrentam desprezo institucional e violência velada (ou nem tão velada assim). Enquanto alguns profissionais não habilitados ensinam sem preparo algum, muitos docentes com formação e paixão são calados, sufocados, esquecidos. Há quem desista. Há quem adoeça. Há quem morra — e ganhe como reconhecimento uma coroa de flores e uma substituição apressada.

Sindicatos? Quase sussurros. Enfraquecidos, divididos, às vezes cooptados.

E assim, a profissão que deveria ser a mais valorizada do país segue desvalorizada, desunida, doente. Segue em frente, por teimosia, por amor ou por fé — sustentando, ainda que cambaleante, o topo da pirâmide que insiste em esmagá-la.

E então, voltamos ao início: um sistema educacional em colapso. Mas o que ele escancara não é apenas o fracasso das escolas — é o fracasso de uma sociedade inteira.

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