Deus não me explica. E tá tudo bem.
É curioso como as pessoas se interessam tanto pela minha religião — ou pela ausência dela. Talvez isso se intensifique por causa das minhas formações. Ouço com frequência frases como: "Todo professor de física é ateu", ou "Mas você não tem religião?". Me lembra muito quem tenta descrever a gente com base em signos: um esforço de encaixar o incompreensível em rótulos confortáveis.
Então, vamos lá:
A concepção de Deus proposta pelas religiões tradicionais já não me faz sentido. Não porque não acredito em algo maior, mas porque vejo incoerência em tentar explicar o que, por essência, deveria ser inexplicável. Em limitar o que dizem ser ilimitado.
Acredito em energia.
Acredito em pessoas boas e ruins.
Acredito em energias positivas e negativas.
Acredito que, se alguém precisa temer um ser superior para agir corretamente, então essa pessoa nunca foi, de fato, boa.
A vida está cheia de ateus que criam instituições filantrópicas e de cristãos que espalham ódio, preconceito e dor em nome de algo que deveria representar amor.
Existe o bem. Existe o mal.
Existe o desconhecido — aquilo que nos silencia, nos fascina, nos transborda. Existem atitudes que, mesmo não sendo nossas, nos fazem sentir orgulho… ou vergonha.
E por que insistimos em atribuir essas ações a Deus ou ao Diabo?
Talvez porque seja da natureza humana terceirizar responsabilidades. Criar entidades supremas que justifiquem nossa existência — ou amenizem nosso medo de sermos tão pequenos diante do universo.
Como se fosse preciso encontrar explicações para a vida e a morte, só para dar algum sentido ao caminho entre uma e outra. E às vezes está busca é tão intensa, que não se admira as paisagens do caminho
Comentários
Você começa com essa frase, e ela ecoa como um alívio… mas também como um grito abafado.
Sim, Deus não precisa te explicar.
Mas isso não quer dizer que Ele não esteja ali.
Ou que o silêncio Dele seja ausência.
Na verdade, é na sarça ardente do silêncio que Ele mais se revela.
Quando Deus apareceu a Moisés no deserto, não veio com rótulos ou placas de uma religião.
Veio com fogo. Com presença. Com um “Eu Sou”.
Sem dogma.
Sem templo.
Sem manual.
Só o eterno dizendo:
> "Eu sou o que sou."
Ou seja: "Com ou sem a sua certeza, Eu sou."
Deus não precisa ser limitado pela explicação humana
Você diz que não crê em um Deus que pode ser “explicado”.
Concordo contigo.
O Deus que cabe numa explicação não é Deus — é invenção.
Mas é justamente por ser inexplicável que Ele existe acima de nós.
Ele não foi feito para caber em nossos argumentos,
nós é que fomos criados para nos perder Nele e, paradoxalmente, nos encontrarmos.
Sobre o bem e o mal — e a liberdade humana
Você diz que acredita no bem e no mal, nas energias, nas pessoas boas e más.
E está certo.
O problema nunca foi Deus.
O problema é o que a humanidade escolheu fazer com o livre-arbítrio.
Desde o Éden, o homem insiste em inverter os papéis: culpar o Criador pelas consequências das escolhas da criatura.
Deus não força ninguém a crer Nele.
Porque Ele não precisa ser validado para existir.
> “A incredulidade do homem não anula a fidelidade de Deus.” (Romanos 3:3)
Mas Ele deixa marcas.
Nas estrelas.
Na consciência.
No vazio que grita dentro do homem, mesmo quando ele tenta calar Deus com argumentos.
Sobre religião: Deus não é doutrina, é presença
Você critica religiões.
Com razão.
A religião feriu.
Manipulou.
Usou o nome de Deus para erguer impérios, para oprimir, para julgar.
Mas…
foi o homem quem fez isso, não Deus.
O erro é olhar para os muros humanos da religião e dizer que foi Deus quem os ergueu.
> Deus nunca disse a Moisés: “Eu sou sua doutrina.”
Ele disse:
“Eu Sou.”
Simples assim.
E profundo demais pra ser rotulado.
Você não rejeita Deus.
Você rejeita o que o homem fez usando o nome Dele.
E nisso, talvez, você esteja mais perto Dele do que imagina.
Sobre a vida, o caminho e o silêncio
Você disse algo muito profundo:
> “Às vezes essa busca é tão intensa, que não se admira as paisagens do caminho.”
E talvez… talvez seja isso que o Criador está tentando sussurrar no teu silêncio:
“Eu Sou o caminho.”
Não a explicação.
Não a teoria.
O caminho.
A paisagem.
O mistério.
O abraço que você sente quando não entende nada, mas ainda assim sabe que não está sozinho.
Por fim, deixo só isso:
> “No mundo tereis aflições; mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo.”
(— Jesus, em João 16:33)
Deus não precisa ser explicado.
Ele precisa ser conhecido.
E quando você O conhece, não é mais você que explica Deus…
"É Deus quem começa a explicar você para si mesmo".
E aí, sim… tudo começa a fazer sentido.