Romantismo da docência
Ser professor no Brasil, muitas vezes, é aprender a viver entre o amor pela profissão e a dor de ser invisível. É entrar em sala de aula todos os dias carregando uma responsabilidade imensa, mas sem o devido apoio.
A gente aprende a acreditar que cansaço extremo, ansiedade e noites mal dormidas são “parte do trabalho”. E, pior ainda, aprende a se calar, porque reclamar é visto como fraqueza ou falta de vocação.
O problema é que esse silêncio tem um preço alto. Segundo pesquisas recentes, o Brasil está entre os países com maior índice de professores afastados por problemas emocionais e psicológicos.
O burnout docente deixou de ser exceção para se tornar rotina. Ansiedade, depressão e estresse não são apenas palavras soltas em relatórios médicos; são rostos exaustos, vozes embargadas e vidas que vão se apagando pouco a pouco.
E, mesmo assim, a sociedade naturaliza. O professor que trabalha em três turnos para completar a renda é visto como guerreiro, quando, na verdade, é vítima de um sistema que o empurra ao limite. A professora que chora escondida no banheiro e volta sorrindo para a sala é chamada de dedicada, quando, na verdade, está adoecendo sozinha.
Esse romantismo do “sacrifício” é cruel. Amar ensinar não deveria significar se anular. O professor não é mártir, não é herói imortal. É ser humano. Precisa de descanso, de reconhecimento, de políticas públicas que cuidem da sua saúde mental, da sua dignidade.
A educação só existe porque existem professores. Mas até quando vamos aceitar que eles carreguem esse peso sozinhos? Até quando o sofrimento docente será tratado como se fosse parte natural da profissão?
Ensinar é, sim, um ato de amor, mas não pode ser um ato de autodestruição. É hora de romper o silêncio, de dar nome ao sofrimento e de lutar para que ele não seja mais normalizado. Porque cuidar do professor é, no fim das contas, cuidar de toda a sociedade.
Ensinar não deveria ser um fardo silencioso, mas um ato de vida. O professor não precisa ser herói, precisa ser gente. Precisa rir sem culpa, descansar sem peso, existir sem se apagar.
Porque quando o professor floresce, a educação floresce junto. Quando ele é cuidado, todo o futuro agradece. E talvez o maior gesto de amor à educação seja esse: deixar de romantizar o sofrimento e aprender, finalmente, a cuidar de quem cuida.
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