Postagens

Mostrando postagens de junho, 2025

Quando saíres

Imagem
Quando saíres, sê diligente em cerrar bem a porta, Não para impedires teu regresso — que já não será possível — Mas para que o vento não traga de volta os ecos do outrora, Nem as sombras te tentem a calcar, de novo, o mesmo limiar. Leva contigo tudo quanto te pertence: Os toques que foram teus, os aromas da convivência, As memórias, mesmo as tênues, e os risos entrecortados. Tudo quanto puseste nesta casa do afeto, guarda em ti, Ou lança-o ao esquecimento, selado numa caixa De papelão ordinário, no porão do passado, Para que ali feneça entre o mofo e o tempo, Sem perturbar a morada que há de abrigar outrem. Não voltes o rosto. Não vaciles nos passos. Que tua decisão, ainda que árdua, seja firme como o aço forjado. Pois o arrependimento — esse velho ladrão da paz — Segue silencioso, como sombra ao crepúsculo, A espreitar a menor fresta por onde possa entrar E contigo fundir-se, tornando-se parte de ti. Vai! Mesmo que o caminho à frente seja bruma e incerteza. Que teus passos...

ONU: A Organização que se tornou uma ONG de Luxo?

Imagem
Durante a pandemia da COVID-19, milhões de pessoas em países pobres receberam suas primeiras vacinas graças à iniciativa COVAX, coordenada pela ONU. Em regiões devastadas por guerras — como o Sudão do Sul, o Iêmen ou a Síria — a comida que chega é muitas vezes distribuída pelo Programa Mundial de Alimentos. Crianças refugiadas, que perderam tudo, encontram nas escolas improvisadas da UNICEF o único ponto de esperança. A ONU salva vidas. Isso é inegável. Mas… é só isso? Se formos honestos, a Organização das Nações Unidas — essa sigla tão carregada de simbolismo — vem se parecendo cada vez mais com uma ONG global com status diplomático. Cheia de boas intenções, com projetos humanitários reais e fundamentais, mas sem poder real para mudar as estruturas de um mundo brutalmente desigual e violento. A ONU foi criada em 1945, após o horror da Segunda Guerra Mundial, com a promessa de garantir a paz, a segurança e a dignidade humana. Mas, quase 80 anos depois, a promessa não v...

Entre o amor de ensinar e o peso de ser professor.

Imagem
Tenho escrito bastante sobre a frustração da minha atual profissão, né? Mas festa vez, prometo que será a mesma coisa! Mas tenho um ótimo motivo! Outro dia ouvi de um amigo professor, que por sinal é muito mais sábio que a maioria por aí, além de ser um grande amigo, que ele ama dar aulas, mas odeia ser professor, e isso vem inundando minha mente com reflexões sobre o que essa frase significa. De início, parece contraditório. Mas, quanto mais penso, mais entendo a profundidade e a dor que está afirmação carrega. Dar aula é o momento em que a gente respira. É quando o conhecimento encontra o olhar curioso, quando a explicação conecta ideias, quando o silêncio da escuta atenta vale mais do que qualquer aplauso. É a parte bonita, viva, pulsante da profissão. Mas ser professor… ser professor é enfrentar batalhas invisíveis todos os dias. É ser cobrado por resultados, mas não ter apoio. É ter paixão, mas ser desacreditado. É ouvir que está em uma “profissão nobre”, mas sentir-se...

Recomeço

Imagem
Enquanto avançava, me perdia. Encontrava versões de mim que eram suas — não minhas. Melhorava, me aprimorava, pensava... Mas não por mim. Não por nós, como eu dizia. Fazia tudo por você. Assim como você chegou e eu ativei o modo casal , você se foi — e resetar quem eu me tornei foi muito mais difícil do que imaginei. Não! Não voltarei à esquina onde nos encontramos, buscando me reencontrar naquela versão. Ela não existe mais. Fui atualizada. Agora sigo em frente, em busca de ser o amor da minha vida. Não dos outros. Não para outros amores. Mas para me olhar no espelho e saber: eu sou incrível. Inigualável. Vou dobrar esquinas, me perder e me reinventar quantas vezes for preciso. Me juntar, me descartar, me reciclar — me tornar sempre algo novo. Por muito tempo, o medo de não sentir de novo me consumiu. Fiquei estéril, enquanto o tempo girava sua roda. Mas hoje… essa dança eu sei dançar. E esse medo já não baila mais comigo. A passos larg...

Onde mora o impossível

Imagem
Amigos são, por essência, mistério e milagre. Em meio às tempestades da existência, tornam-se brisa suave de maresia; e nos abalos sísmicos da alma, firmam-se como fortalezas, bunkers de ternura e abrigo. Havia nele — aquele que agora escreve em silêncio emocionado — a crença de que partilhar o fardo da vida era uma utopia bonita demais para ser vivida. Admirava de longe a cena quase mítica de um ser humano carregando o outro, quando este já não tinha forças para caminhar. Parecia-lhe poesia distante, quadro de um mundo inalcançável. Mas o que é imaginário senão aquilo que ainda não se fez real? Pois é exatamente isso que acontece: aqueles que chama de amigos ultrapassam os limites do que julgava possível. Eles acolhem suas dores mais agudas, suas crises e os medos mais íntimos. Amparam, com mãos firmes e corações atentos, até mesmo seus espinhos. E, talvez mais importante que tudo, respeitam seu silêncio e os contornos únicos do seu “que”. Gratidão? Ele se pergunta se essa...

O peso invisível dos fortes

Imagem
Existem pessoas raras neste mundo. Pessoas que não apenas escutam, mas acolhem. Que, diante da dor alheia, não recuam. Ao contrário — se aproximam, abraçam, silenciam com presença, e, sem que se perceba, puxam para si uma parte da carga que não era delas. São essas almas que carregam o poder de absorver as tempestades dos outros e, ainda assim, caminhar em meio à própria. Que transformam lágrimas que não são suas em sorrisos que oferecem de volta. Que guardam no peito o cansaço de muitas batalhas que nem travaram, mas que enfrentaram por empatia, por amor, por instinto. Enquanto o mundo as vê como fortes, elas sentem a exaustão silenciosa de carregar dores que não aparecem. São fortalezas que não se permitem desmoronar, porque sabem que, muitas vezes, são o último abrigo de alguém que já está quase desistindo. Essa resiliência é rara. É linda. É quase sagrada. Mas, mesmo os fortes precisam de colo. Mesmo os que seguram o mundo precisam de alguém que, de vez em quando, pergu...

Quando a escola cai, caímos todos

Imagem
Por trás do portão da escola, ruídos silenciosos ecoam. Não são os risos das crianças no recreio, nem o barulho da campainha anunciando o intervalo. O que ecoa, cada vez mais alto, é o som de um sistema que desaba. Um sistema educacional que não falhou por acidente, mas foi sistematicamente empurrado ao colapso. A falência da educação brasileira não começa na lousa — começa em casa, na pressa dos pais, na ausência dos afetos trocados por horas extras de trabalho em busca de luxos. Começa nas urnas, no voto vendido por promessa vazia, na escolha de políticos que confundem poder com privilégio. Começa no discurso de igualdade que virou ruído, que gera revolta mas não promove mudança. Vivemos em um país que, não por acaso, precisa de mão de obra barata, obediente e facilmente manipulável. Que quer pais ocupados demais para ensinar, para amar. Que quer gestores preocupados mais com índices do que com histórias, mais com bônus e cargos do que com bibliotecas e laboratórios. Enqu...