A vaidade no espelho
Certa vez, um homem olhou-se no espelho.
Gostou do que viu: o nariz erguido,
os olhos que pareciam entender tudo
e um sorriso que mordia os próprios dentes.
Ele achava que o mundo o devia,
que o sol subia ao céu para lhe aquecer o ego
e que as estrelas só piscavam para ele.
Era um rei sem trono,
um poeta sem papel,
um deus de barro moldado pelas próprias mãos.
Mas o destino, esse cínico,
não envia recados, só cutucões.
Primeiro, o chão escorregadio,
depois, o tropeço.
O soberbo caiu, claro.
Não porque alguém o empurrou,
mas porque se esqueceu de olhar para onde andava.
E lá estava ele, no pó que tanto desprezava,
a descobrir que sua altivez
não valia uma moeda furada
na banca da esquina.
Ah, a vida...
Como uma página de Machado,
carregada de ironias e sorrisos enviesados.
E como em Bukowski,
com sua brutal honestidade:
ninguém se importa com o pedestal,
só com o tombo.
Levantou-se, claro.
Mas agora, ao olhar-se no espelho,
viu um homem diferente:
não melhor, nem pior,
apenas mais real.
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