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Mostrando postagens de maio, 2025

A Superexposição e o Tédio Digital: Quando a Vida no Story Vira Zapping

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Vivemos uma era em que a necessidade de compartilhar tornou-se quase uma obrigação social. Do café da manhã ao treino na academia, passando por desabafos, conquistas e até momentos de tédio, tudo ganha espaço nos stories das redes sociais. No entanto, o que começou como uma maneira interessante de conexão e expressão pessoal parece ter se transformado numa repetição exaustiva do ordinário — uma avalanche de registros que, ironicamente, perdeu o sentido justamente por sua abundância. O fenômeno lembra os velhos tempos do controle remoto na mão, quando trocávamos de canal compulsivamente, sem encontrar algo que realmente captasse nossa atenção. Hoje, os stories se tornaram os “canais” da vez — e a nossa paciência, o botão que passa tudo adiante em um toque. A banalização do compartilhamento transformou o conteúdo em ruído. A intimidade virou espetáculo, mas o público, saturado, já não assiste — apenas desliza. Essa superexposição revela uma urgência de validação que, muitas v...

Ciclos

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Pessoas vêm. Pessoas vão. E não é tragédia, é só vida acontecendo. Chegadas trazem brilho nos olhos, promessas silenciosas, dias bons que a gente acha que vão durar pra sempre. Mas não duram. As prioridades mudam, as rotas se desencontram, e às vezes, o silêncio fala mais alto do que qualquer briga. Tem gente que já foi tudo, e hoje é só nome conhecido num feed distante. Tem quem um dia jurou estar sempre por perto, mas hoje mal lembraria seu aniversário. E tá tudo bem. Nem todo vínculo é eterno. Nem todo afeto se sustenta no tempo. E não é amargura — é aceitação. A gente não dirige olhando o retrovisor. Segue. Aprende. Guarda o que foi bonito. E deixa ir o que já não faz sentido ficar.

Educação: um barco furado?

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Faz tempo que a escola não é para todos. Talvez nunca tenha sido. Ainda assim, gosto de acreditar que houve uma época em que os jovens buscavam conhecimento, movidos pela curiosidade e sede de novidade. Mesmo nesse tempo hipotético, já existiam os que viam nos estudos um caminho para melhorar de vida — e os que só queriam curtir a jornada. E hoje? Diante do desinteresse dos estudantes, da apatia dos pais e da exigência de uma mão de obra cada vez menos qualificada para alimentar a cultura do consumo e sustentar uma política falida, governos inventam mil e uma formas de distribuir diplomas a analfabetos funcionais, políticos e sociais. Governos? Para que investir na valorização dos professores? Melhor criar projetos fantasmas, sugar a saúde física e mental desses profissionais e empurrá-los ladeira abaixo rumo à precarização do ensino público. Gestores? Quanto mais "aprovações", mais dinheiro na conta, mais pais felizes, governo satisfeito e o cabide de empregos ga...

Carta aberta sobre o naufrágio da educação

À todos Faz tempo que a escola deixou de ser um espaço para todos. Talvez, sendo sinceros, nunca tenha sido. Ainda assim, quero crer que houve uma época em que os jovens buscavam o conhecimento com curiosidade, sede de novidade, vontade genuína de transformar a própria realidade. Mesmo então, já havia os que enxergavam nos estudos um caminho de ascensão — e os que apenas queriam passar o tempo. Hoje, porém, o que se vê é desinteresse por parte dos estudantes, apatia por parte das famílias e um sistema que exige cada vez menos esforço para formar cidadãos cada vez menos preparados. Enquanto isso, governos criam mecanismos para distribuir diplomas como se fossem brindes — entregues a analfabetos funcionais, políticos e sociais. Por que investir na valorização dos professores? É mais conveniente criar projetos de fachada, esgotar física e mentalmente os educadores e empurrá-los para a precarização do ensino público. A lógica é perversa: quanto mais aprovações, mais dinheiro, mais pais “sa...

Os poucos e os nossos

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Faço parte de um grupo raro. Raro como encontrar silêncio em meio ao barulho do mundo ou lucidez em meio à pressa. Um grupo que não gosta de gente — não no sentido genérico, mas naquele específico: gente que invade, que julga, que se acha evoluída demais pra enxergar o básico. A gente não curte contato forçado, conversa rasa ou aquela simpatia que disfarça preconceito. A gente não se curva ao "tem que ser assim". Já surtamos com essa sociedade que se diz moderna, mas ainda tropeça nas mesmas velhas ignorâncias. E, apesar do caos, a gente se apoia. Porque entre os nossos, ainda existe abrigo. Sou o mais limitado desse grupo. Admito. Não disfarço quando algo me incomoda — meu rosto entrega tudo. Não suporto ignorância travestida de opinião e, às vezes, confesso, sou um idiota até com quem amo. Mas é que o filtro vai embora quando a gente se cansa de tanta performance social. Entre nós, os diálogos são intensos. A gente debate o mundo, esbarra nas polêmicas, mergulha...