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Mostrando postagens de fevereiro, 2025

Soneto das Promessas Vãs

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Quantas promessas fez-me outrora o amor, Em lábios quentes, juras desmedidas! Mas como o vidro, em súbito estertor, Racharam-se ao roçar das mãos feridas. "Estarei sempre ao teu lado" – e eis mentida A mais sublime, a mais ilusa flor, Que ao vento foi, sem lume e sem guarida, Tornada sombra, pálida e sem cor. Que amor é este, efêmero e fugaz, Que ao sol fulgura e à chuva se desfaz, Deixando rastros vãos na imensidão? Não creio em juras, mas em passos dados, Nos breves laços, nunca eternizados, Que são do tempo e não da ilusão.

Travesseiros

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Só meus travesseiros sabem quantas vezes me peguei mergulhado em uma tristeza que, instantes antes, não existia. Do nada, eu os organizava entre minha cabeça e minhas pernas como se fossem meu colo particular. Envolto em pensamentos vagantes, tentando auto se explicar e lutando para não existir, enquanto ganhavam uma força descomunal e desoladora. Nada de novo acontece, a dor é uma velha conhecida — intermitente, eu diria. E o vazio é pulsante. Mas há "sentimentos" que, mesmo recorrentes, sempre se apresentam novos, a fim de evitar o costume. Mantêm-se os personagens, as batalhas... Mas nunca as guerras. E, abraçado aos meus travesseiros, luto. E luto, mesmo quando o cansaço sussurra rendição, mesmo quando o silêncio pesa mais que o próprio vazio. Os travesseiros, cúmplices silenciosos, acolhem não só o corpo, mas as feridas invisíveis que a alma insiste em carregar. Mas no final é isso... Não é sobre vencer sempre, é sobre não largar a espada, nem que seja apenas...

Minha complexidade.

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Minha mente é uma filha da puta. Trapaceira, carente, teimosa. Me sabota, me engana, me fode. E eu deixo. Tenho medo da solidão, mas não acho que mereço ninguém. Tenho medo de estar com alguém, mas nunca sou suficiente. Digo que quero estar só, mas o que anseio é sentir o calor de uma respiração perto, uns dedos no meu cabelo, enquanto meus demônios me mastigam por dentro. Mas quem entende? O mundo é cheio de analfabetos emocionais. E eu só sei escrever. Então me entorpeço de qualquer coisa, qualquer fuga, qualquer distração, porque a lucidez me esmurra todo dia. Mas sigo... Porque, foda-se, eu ainda estou aqui. Porque não vou deixar que essa mente fodida destrua a mim ou a quem caminha ao meu lado. Porque, no fim, sou eu quem dita as regras e não os fantasmas que tentam me atormentar.

E os professores?

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Ser professor é ocupar múltiplos papéis, dependendo de quem observa. Para os intelectuais, somos agentes transformadores, pilares do conhecimento e da sociedade. Para os pais, "educadores", uma palavra carregada de expectativas que, muitas vezes, significam suprir lacunas que a família não consegue ou não quer preencher. Para os alunos, somos tudo ao mesmo tempo: pais, amigos, psicólogos, inimigos, conselheiros – qualquer coisa, menos apenas professores. Já para os gestores, somos números. Peças substituíveis em um sistema que exige resultados, mas pouco se preocupa com quem os alcança. E para os governantes? Somos um gasto. Algo que, se pudesse ser cortado sem revolta popular, talvez já tivesse sido. No meio disso, o professor segue. Tentando transformar, tentando ensinar, tentando sobreviver. Mas a mais cruel realidade é que nada vai mudar, pelo menos, não para melhor, pelo menos enquanto a sociedade continuar a enxergar o professor apenas a partir de suas própr...

Professor ou Salvador? O Peso de um Papel que Não Deveria Ser Seu

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Nos últimos anos, o papel do professor foi distorcido a ponto de se esperar que ele seja muito mais do que alguém que ensina. Criou-se a ideia de que o professor precisa ser amigo, psicólogo, pai substituto, responsável pelo bem-estar emocional e social dos estudantes. E, para reforçar essa visão, veio o rótulo de “educador”, que parece exigir dele uma dedicação irrestrita, como se sua missão fosse transcender o ensino e resolver problemas que caberiam à família e à sociedade. Mas onde fica o verdadeiro papel do professor nisso tudo? O professor existe para ensinar. Seu trabalho é garantir que os estudantes tenham acesso ao conhecimento, fortalecer valores e contribuir para a formação de cidadãos críticos e responsáveis. Isso já é um desafio enorme dentro de um sistema educacional cheio de falhas. O professor pode se importar, pode orientar quando necessário, mas não pode – e nem deve – carregar sozinho o peso de uma estrutura que não funciona. Essa romantização do professo...

Espinhos

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Houve quem visse na rosa, só a dor, como se o espinho fosse erro, como se a beleza precisasse ser pura, sem defesa, sem risco, sem peso. Mas há espinhos em tudo que vive, na árvore que abraça o céu, no cacto que guarda a sede, na palavra que fere e ensina. Quem disse que maciez é virtude? Que a vida há de ser lisa, sem arestas, sem susto, sem luta para existir? O espinho é escudo, é a voz do silêncio, é a lembrança de que tocar nem sempre é possuir. Então, antes de temê-los, aprende a vê-los: há espinhos que protegem, e há mãos que sabem respeitar.

Além do nevoeiro

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Às vezes, o presente é uma estrada cercada por neblina. Cada passo parece incerto, e os pensamentos, pesados como correntes, sussurram que talvez seja melhor parar. O medo se veste de lógica, a insegurança se disfarça de prudência, e o cansaço parece um argumento irrefutável para desistir. Olhar para frente exige esforço quando o horizonte se esconde atrás das dúvidas. O futuro, esse território inexplorado, parece tão distante que o agora se impõe como única verdade. Mas há algo dentro de nós—um ímpeto, uma centelha, um eco persistente de esperança—que nos lembra que já caminhamos antes, que já superamos tempestades que pareciam eternas. Superar os pensamentos limitantes não é negar sua existência, mas desafiar sua autoridade. É reconhecer que o medo fala alto, mas não precisa ter a palavra final. Que as incertezas existem, mas não podem ser âncoras. Que o presente pode ser um labirinto, mas não é um cárcere. Cada passo à frente é uma vitória, ainda que pequena. Cada pensam...