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Educação. A aprovação de faz de conta

O professor hoje é pressionado de forma absurda a aprovar. Não importa se o aluno não tentou, não se esforçou, não aprendeu o mínimo necessário. A ordem é clara: passe de qualquer jeito. E se não der, finja que deu. A família cobra, a instituição empurra, a sociedade aplaude. Afinal, pra que exigir compromisso? Agora imagine esse mesmo raciocínio em outras profissões. Um engenheiro ergue um prédio sem cálculo, sem estrutura — se cair, paciência, o importante é ter tentado. Um advogado faz uma defesa pela metade — se um inocente for condenado ou um criminoso escapar, tudo bem, ele fez “o possível”. Um médico olha o paciente por cima, receita qualquer coisa e diz que investigar demais é exagero. Um dentista, diante de uma cárie, simplesmente arranca o dente inteiro. Um psicólogo escuta cinco minutos, dá um conselho de revista e encerra a sessão. Um pedreiro assenta meia dúzia de tijolos e deixa o resto no chão, porque também não pode se desgastar. Uma manicure lixa só metade da unha e di...

A verdadeira condenação é nossa

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A condenação de Bolsonaro diz muito mais sobre nós, enquanto sociedade, do que sobre ele. Em menos de uma década, temos dois presidentes presos, e ainda assim a reação coletiva se resume a comemoração do “lado A” ou do “lado B”. Não se trata de política, nem de um país melhor. Trata-se de idolatria. De uma ilusão de que um brasileiro precisa odiar o outro para validar sua própria visão de mundo. Um lado não presta porque endeusa o outro, e vice-versa. Nossos representantes, que deveriam unir, alimentam o ódio com discursos vazios de paz e de conciliação. E nós, cegos pela polarização, seguimos divididos como irmãos em guerra, incapazes de enxergar que o verdadeiro problema não está apenas neles, mas em nós mesmos.

Quase uma oração

Tenho trabalhado muito minha mente para desconstruir aquilo que enraizaram no meu subconsciente: a ideia de que, como professor, devo mudar o mundo ou reparar o descaso que parte desta geração tem pela educação. Não sou salvador da pátria, nem herói. Sou um profissional formado e capacitado para ensinar. Na faculdade, não me ensinaram a sacrificar minha saúde física e mental para convencer os alunos de que precisam ser estudantes. Meu compromisso é dar o melhor de mim àqueles que desejam aprender. Esses merecem meu esforço. Quanto aos demais, que colham o que plantaram. E quando tentarem me culpar pelo fracasso, minha meta é não me deixar abalar e ter a clareza de que estive em sala de aula por todos, mas que nem todos estiveram lá para aprender. Quando os pais vierem reclamar, culpar-me e colocar os filhos em altares invisíveis, que eu tenha a sabedoria de dizer o que precisa ser dito: durante um ano inteiro não se preocuparam com a vida escolar deles, e agora precisam colher, junto c...

O valor que não de mostra

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Sinto falta dos gestos de bondade genuínos. Daqueles que não precisavam se transformar em um post, fadado a ser esquecido. Daqueles que, ao serem lembrados, ainda hoje abrem um sorriso no rosto. Sinto falta da generosidade de outros tempos, feita pela honra de ajudar, e não pela busca de aprovação social. Sim, eu vivi esse momento. Um tempo que não está registrado em fotos, mas talvez em uma carta escrita à mão — sim, à mão! — em folhas já amareladas que, ao reler, me fazem viajar no tempo. Onde foi parar a bondade? Onde estão as pessoas de bom coração? Teriam entrado em extinção? Não, meu caro, com certeza não! Elas apenas continuam sendo quem sempre foram: discretas, sem jamais querer transformar suas belas e fiéis ações no centro das atenções.