Confissão
Não sou escritor. Não tenho essa ousadia. Não por falsa modéstia — mas por respeito. Tenho nas palavras uma amiga muda, silenciosa, que diz mais que vozes apressadas, que exibem saberes que nunca tiveram, vivências que nunca viveram. A escrita sempre me acolheu: me deixou desabafar, criar, sonhar, sem medo, sem pressa, sem censura. Ela me escancara meus exageros, defeitos, desvios, mas sem cobrar, só sugerindo: "Olha bem para si." E, ainda assim, me mostra que sou bom — melhor do que eu achava. Que meu coração abriga, oferece, transborda. Mas não — não sou escritor. Não falo isso por modéstia, como disse Caetano, falo porque é verdade. Tenho essa necessidade: escrever. Derramar sentimentos, percepções, fantasias, em algum lugar eterno — antes o papel, hoje o celular — onde posso me ler, me reviver, me reaprender, me reinventar.